Ainda pior que a convicção do não e a
incerteza do talvez é a desilusão de um quase.
É o quase que me incomoda, que me entristece,
que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi.
Quem quase ganhou ainda joga, quem quase
passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou.
Basta pensar nas oportunidades que escaparam
pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do
papel por essa maldita mania de viver no outono.
Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a
escolher uma vida morna; ou melhor não me pergunto, contesto! A resposta eu sei
de cór, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos
abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados... Sobra
covardia e falta coragem até pra ser feliz!
A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo
trai.
Talvez esses fossem bons motivos para decidir
entre a alegria e a dor, entre o sentir e o nada, mas não são. Se a virtude
estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e
o arco-íris em tons de cinza.
O nada não ilumina, não inspira, não aflige
nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.
Não é que fé mova montanhas, nem que todas as
estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos
somente paciência... Porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é
desperdiçar a oportunidade de merecer.
Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros
amores impossíveis, tempo.
De nada adianta cercar um coração vazio ou
economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance.
Não deixe que a saudade o sufoque, que a
rotina acomode, que o medo o impeça de tentar.
Desconfie do destino e acredite em você. Gaste
mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que
esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já
morreu.
(Autoria atribuída a Luís Fernando Veríssimo,
mas que ele mesmo diz ser de Sarah Westphal Batista da Silva, em sua coluna do
dia 31 de março de 2005 do jornal O Globo)