6 de setembro de 2015

Aprende a Escrever na Areia. - Lenda Árabe. Autor Malba Tahan.

Dois amigos, Mussa e Nagib, viajavam pelas longas estradas que recortam as tristes e sombrias montanhas da antiga Pérsia. Eram nobres e ricos e faziam-se acompanhar de servos, ajudantes e caravaneiros.

Certa manhã eles chegaram às margens de um grande rio barrento e impetuoso. Era preciso transpor a corrente ameaçadora. 
Porém, ao saltar de uma pedra, Mussa foi infeliz no salto e caiu no torvelinho espumejante das águas em revolta. Teria ali perecido, arrastado para o abismo, se não fosse Nagib.

Este, sem a menor hesitação, atirou-se à correnteza e livrou da morte o seu companheiro de jornada. 

Que fez Mussa? Ordenou que o mais hábil de seus servos gravasse na face lisa de uma grande pedra que ali se erguia, esta legenda admirável:

Viajante: “Neste lugar, com risco da própria vida, Nagib salvou, heroicamente, seu amigo Mussa.”

Feito isso, prosseguiram, com suas caravanas, pelos intermináveis caminhos de Allah.

Cinco meses depois, em viagem de regresso, encontraram-se os dois amigos naquele mesmo lugar perigoso e trágico. E, como se sentissem fatigados, resolveram repousar à sombra acolhedora do lajedo que ostentava a honrosa inscrição.

Sentados na areia clara puseram-se a conversar. Eis que por motivo fútil surge de repente grave desavença entre os dois. Discordaram. Discutiram. Nagib, exaltado, num ímpeto de cólera, esbofeteou, brutalmente, o amigo Mussa.

 Que fez Mussa? Que farias tu, em seu lugar?

Mussa não revidou a ofensa. Ergueu-se e tomando tranquilo o bastão, escreveu na areia clara ao pé do negro rochedo:
Viajante: “Neste lugar, por motivo fútil, Nagib injuriou gravemente seu amigo Mussa.”

Surpreendido com o estranho proceder um dos ajudantes de Mussa observou respeitoso:

- Senhor, para exaltar a abnegação de Nagib, mandou gravar para sempre na pedra o feito heróico. E agora, que ele acaba de ofender-vos tão gravemente, vós vos limita a escrever na areia incerta o ato de covardia! A primeira legenda, ò xeique, ficarás para sempre. Todos os que transitarem por este sítio terá notícia. Esta outra, porém, riscada no tapete de areia antes do cair da tarde terás desaparecido como um traço de espuma.

Respondeu Mussa:

- A razão é simples. O benefício que recebi de Nagib permanecerá para sempre, em meu coração. Mas a injúria, essa triste injúria, escrevo-a na areia, como um voto, para que depressa se apague e desapareça e mais depressa ainda, desapareça e se apague de minha lembrança!

Eis a sublime verdade, meu amigo! Aprende a gravar, na pedra, os favores que receberes os benefícios que te fizerem as palavras de carinho, simpatia e estímulo que ouvires.

Aprende, porém, a escrever na areia, as injúrias, as ingratidões, as perfídias e as ironias que te ferirem pela estrada agreste da vida. Aprende a gravar, assim, na pedra; aprende a escrever, assim, na areia... E serás feliz.


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