INTRODUÇÃO.
Se não existisse o ouvido, não haveria diálogo. Dos cinco órgãos dos sentidos, o ouvido é o primeiro a ativar-se, já durante a gestação (aos seis meses), de modo que o bebê, quando nasce, já reconhece o som da voz de sua mãe. O ser humano pode até fechar os olhos ou a boca de forma voluntária, sem qualquer auxílio externo, mas não pode fechar os ouvidos. E se os olhos são considerados como as janelas do coração, os ouvidos podem ser denominados como o portal de acesso para as profundezas da alma humana. Por isso a música tem o poder de estremecer o homem e despertar-lhe emoções em um nível muito profundo.
A prática musical
proporciona a criação de valores com amplos e diversos significados. A
sociabilidade e interação do individuo com seu meio, por meio da percepção daquilo
que o rodeia; o relacionamento direto com um grupo e trabalho em equipe, organização;
o constante desenvolvimento da criatividade e percepção artística. O dinamismo
da execução musical envolve múltiplas inteligências como a motora (por meio da
execução mecânica de seu instrumento); a visual (lendo códigos próprios de linguagem
musical e se comunicando visualmente com outros músicos, percebendo os gestos
instrumentais inerentes à execução musical); auditiva (trabalhando a percepção daquilo
que ocorre do seu ambiente e o som dos outros músicos tocando); o pensamento abstrato
e espacial (através das evocações que o discurso musical carrega em si mesmo, e
as representações da escrita musical, por meio de qualquer espécie de notação);
linguística, proporcionando novas formas de expressão dialética dentro da
linguagem dos sons; interpessoal, à medida que se proporciona a oportunidade do
convívio social e põe em clara evidência a comunicação e relacionamento dos
membros do grupo entre si, no momento da execução de alguma peça musical;
intrapessoal, pois implica na superação de conflitos e questões internas em
prol de um resultado final maior, como a apresentação musical. Essa vivência e
ensino serão proporcionados na criação e execução de apresentações artísticas
musicais. Estudos apontam que a música desenvolve novas habilidades cognitivas
e ajuda a lidar melhor com as emoções, a diminuir comportamentos agressivos. É
usada para tratar crianças com hiperatividade, distúrbios de atenção e de
linguagem. Ela pode ser usada para trabalhar várias áreas. Um piano é
matemática pura! Na alfabetização é possível usar elementos musicais similares
ao som das letras. A música favorece até o convívio social das crianças e no
campo da neurociência, não faltam dados que vinculam o estudo da música ao
desempenho intelectual.
Quando pensamos em
música, logo imaginamos o ouvido como órgão importante de sentido, mas é o
cérebro que interpreta as ondas sonoras recebidas pelo ouvido. Assim como todos
os sentidos externos do corpo humano (audição, olfato, tato, paladar e visão) a
audição é resultado de uma interpretação cerebral. Quanto mais rica for uma
música em seus diferentes sons (agudos, médios e graves), timbres (cordas,
sopro e percussão), ritmos (pulsações), velocidades (notas longas, médias e
curtas), intensidade (forte, média e fraca) com harmonia (combinação de sons
simultâneos), mais o cérebro de quem a ouve será estimulado. Recomenda-se, por
exemplo, às crianças em idades iniciais do desenvolvimento cerebral (0 a 6
anos) ouvir músicas eruditas, a exemplo das "clássicas", por serem
ricas em expressões sonoras propícias ao desenvolvimento da acuidade auditiva;
característica esta que é de grande importância para aprendizagem de idiomas. A
música, arte de combinar os sons, é uma excelente fonte de trabalho escolar e
no lar porque, além de ser utilizada como terapia psíquica para o
desenvolvimento cognitivo, é uma forma de transmitir idéias e informações, faz
parte da comunicação social.
OBJETIVO
Esse curso prático tem
como alvo a introdução aos conceitos fundamentais da música, os quais podem ser
utilizados como uma poderosa ferramenta para estabelecer a harmonia
no lar pela musicalização entre maridos e mulheres, filhos, irmãos, mães e pais, para todas as faixas
etárias. Desenvolver uma ampla concepção sobre o fazer musical, possibilitando
novas abordagens e ferramentas para o cotidiano familiar, e a prática musical
como elemento gerador de bons valores humanos.
MATERIAL: Sucata em geral, qualquer material
reciclável. Por exemplo: pedaço de
conduíte (mais ou menos 1 metro), ½ xícara de arroz cru, fita isolante, frascos
e objetos de várias formas e tamanhos, cascas de coco, retalhos de papel
celofane, espiral de caderno, balão de látex (bexiga de festa), objetos de
metal, de vidro, plástico, madeira.
AQUECIMENTO:
A) Respiratório
➔ Todos de pé,
em roda e de mãos dadas. Começar pelo exercício de respiração. Inspirar pelo nariz,
expirar pela boca. Trabalhar pulmão e diafragma (boca do estômago), enchendo a ambos
de ar.
➔ Em seguida,
relaxar pescoço e ombros, fazendo movimentos lentos e firmes. Com o queixo junto
ao tórax, girar a cabeça da esquerda para a direita, fazendo um círculo
completo e depois da direita para a esquerda (três vezes de cada lado). Depois,
movimentar a cabeça para o lado, de modo a tentar tocar o ombro esquerdo com a
orelha esquerda e o ombro direito com a orelha direita (três vezes de cada
lado). Por fim, girar a cabeça lateralmente, de modo a alinhar o queixo com o
ombro esquerdo. Voltar para o meio e depois alinhar o queixo com o ombro
direito (três vezes de cada lado).
➔ Inspirar
pelo nariz, expirar pela boca, variando a expiração em sons de ssssss, ffffff,
Xxxxxx,
zzzzzzzzzzz, brrrrrr, trrrrrr.
OBS.: Não
fazer exercício respiratório de olhos fechados, pois pode provocar tontura.
B) Vocal
Aquecer as
pregas (cordas) vocais, expirando com modulações de agudo e grave, volume forte
e volume fraco (alto e baixo), das seguintes sonoridades:
➔ Nasal
ressonância: m ;
➔ Fricativo
sonoro: v, z, g/j ;
➔ Vibração de lábios:
br (brincando de carrinho);
➔ Vibração de
língua: tr (toque de telefone)
C) Auditivo
Pedir para
que todos (mesmo que “todos” sejam apenas dois) sentem-se e fechem os olhos,
mantendo a respiração lenta e profunda.
Dispor os
objetos numa mesa e cobri-los com um tecido. Só tirar o tecido quando todos
estiverem de olhos fechados (mesmo que todos sejam apenas dois integrantes).
Isso ajuda a manter uma atmosfera imaginativa no grupo. Cobrir os objetos
novamente, antes que o grupo possa abrir os olhos.
➔ Produzir
sons com os diversos instrumentos de sucata para o grupo escutar (que devem ser
feitos com delicadeza e harmonia). Enquanto isso, sugerir que cada um possa:
➔ Ouvir o som
mais distante que conseguir.
➔ Ouvir o som
da sala.
➔ Ouvir o som
da própria respiração.
➔ Ouvir a
corrente sanguínea como rios e cachoeiras
➔ Ouvir o
nosso coração, que é um tambor natural.
VIVENDO AS QUALIDADES DOS SONS
1) Palma Progressiva
➔ Ainda em pé
e mantendo o grupo em um círculo, orientar para que todos (mesmo que todos
sejam apenas dois) batam o dedo indicador direito na palma da mão esquerda,
várias vezes, todos juntos.
➔ Depois,
bater os dedos indicador e médio da mão direita, na palma da mão esquerda, várias
vezes, todos juntos.
➔ A seguir,
atenção: bater os dedos indicador, médio e anelar da mão esquerda na palma da
mão direita, várias vezes, todos juntos.
➔ Por fim,
bater os dedos indicador, médio, anelar e mínimo da mão esquerda na palma da mão
direita, várias vezes, todos juntos.
1A) Variação do exercício
➔ Propor que
dois instrumentos, tambor e guizo*, sejam usados para mostrar os sons fortes e
fracos. *(os instrumentos “tambor” e “guizo” podem ser adquiridos ou
substituídos por utensílios domésticos que causem o mesmo efeito sonoro)
➔
Pedir que o
grupo se divida em dois e se posicione um de frente pro outro. Mesmo que o
grupo seja ímpar, com 3 integrantes, ou com apenas 2 integrantes, o que vale
aqui é a intenção de se criar a harmonia no lar pela
musicalização entre os participantes.
➔ Quando bater
o tambor, o grupo A bate os pés no chão, com força.
➔ Quando tocar
os guizos, o grupo B bate palmas bem de leve.
OBS.: Perguntar
qual é percepção do grupo com os exercícios. Após ouvir as opiniões, ler o conceito
abaixo:
Estes
exercícios nos permitiram descobrir uma das qualidades do som, a intensidade, que
é a diferença entre sons fortes e fracos. Então, a intensidade é a qualidade
que se refere à força do som. A intensidade é “o volume” do som, que
erroneamente dizemos estar “baixo ou alto”. O conceito de som baixo e alto nada
tem a ver com a intensidade e será visto mais adiante, no item 3, na forma de
altura.
2) O Grande e o Pequeno
➔ Manter o
grupo dividido em dois. Cada grupo deverá imitar um animal.
(Procure não
fazer Bullying)
➔ Propor ao
grupo A que ande com passos largos como o elefante e invente sons longos.
➔ O grupo B
irá andar com passinhos curtos como a formiguinha e inventar sons curtos.
2A) Variação do exercício
➔ Mantendo a
divisão de grupos A e B, sugerir ao grupo A para saltitar, como se os pés estivessem
queimando, caminhando sobre a brasa, ao ouvir o som do pandeiro (sons curtos).
➔ Sugerir ao
grupo B que deslize os pés no chão, como se estivessem escorregando na lama, ao
ouvirem a percussão do chocalho (sons de longa duração).
OBS.: Perguntar
qual é percepção do grupo com os exercícios. Após ouvir as opiniões, ler o conceito
abaixo:
Estes
exercícios nos permitiram explorar outra qualidade do som, a duração, que é a diferença
entre sons longos e curtos. A duração é a qualidade que se refere à extensão do
som, que pode ser maior ou menor, igual ou desigual.
3) O Altão e o Baixinho
➔ Mantendo a
divisão de grupos A e B, propor que o grupo A imite o “BLIM” de um sininho e
movimente os braços para a direita.
➔ O grupo B
irá fazer “BLÃO”, movimentando os braços para a esquerda.
➔ Em seguida,
pedir para o grupo do “BLIM” cantar bem fininho (agudo), e ao grupo do “BLÃO”
para cantar mais grosso (grave).
3A) Variação do exercício (desenhar
uma escada no quadro negro, quadro branco, flipshart, na parede, no chão,
enfim, onde for possível. )
➔ Agora, o
grupo A, irá fazer de conta que está descendo uma escada, emitindo sons mais graves
a cada degrau que desce, começando pelo tom mais agudo do que fizeram no exercício
anterior.
➔ O grupo B
irá fazer de conta que está subindo uma escada, emitindo sons mais agudos a cada
degrau que sobe, começando pelo tom mais grave do que fizeram no exercício anterior.
OBS.: Perguntar
qual foi a percepção do grupo com os exercícios. Após ouvir as opiniões, ler o conceito
abaixo:
Estes
exercícios nos permitiram conhecer uma terceira qualidade do som, a altura, que
é a diferença entre sons agudos e graves. A altura à definição da frequência
dos sons, que podem se apresentar mais graves (com poucas vibrações) ou mais
agudos (com vibrações mais frequentes).
4) Cada um com o seu som
➔ Pedir para
que o grupo se sente e feche os olhos.
➔ O instrutor
da turma (eleito de forma democrática entre os integrantes da família) desloca-se
livremente pela sala e produz diferentes tipos de som.
Ex.: Sacode
uma caixa de lápis, amassa um papel, bate com a cesta de papel no chão etc. O grupo
deve tentar adivinhar que tipo de objeto está produzindo aquele som, comentando
se é um som forte ou fraco, alto ou baixo, longo ou curto, com o que se parece.
4A) Variação do exercício
➔ Descobrir os
objetos do aquecimento auditivo e pedir para que o grupo explore as múltiplas
possibilidades de timbre.
OBS.: Perguntar
qual é a percepção do grupo com os exercícios. Após ouvir as opiniões, ler o conceito
abaixo:
Estes
exercícios nos permitiram experimentar outra qualidade do som, o timbre, que são
as diferentes características dos diversos tipos de som e que o timbre depende
da natureza do objeto que esta produzindo o som. O timbre é a qualidade que se
refere à “cor” dos sons ou da voz; a qualidade que torna diferente e única uma
voz da outra, um instrumento de outro.
5) Sentir o Ritmo
Este
exercício requer um nível de atenção que irá definir se haverá ou não sucesso
na última brincadeira.
➔ Pedir para
que o grupo caminhe aleatoriamente pela sala, se misturando bem. Sempre inspirando
pelo nariz e expirando pela boca. Uns 10 segundos.
➔ Ao sinal da
primeira palma dada pelo instrutor, todos param, sempre prestando atenção à própria
respiração.
➔ Então, o
instrutor pede para que o grupo dê um passo para cada palma que ele der.
➔ Segue,
propondo ritmos, intensidades e durações diferentes.
➔ Pode
experimentar sequências de palmas de duas em duas, depois de três em três e quatro
em quatro e depois fazer uma inversão: de quatro em quatro, de três em três e
de duas em duas palmas.
OBS.: O
instrutor da turma precisa observar se o grupo está atento, se consegue
corresponder às instruções. Perguntar ao grupo quais são dificuldades
encontradas e oferecer acolhimento carinhoso na eventual possibilidade de haver
conflitos.
6) O Trem está de Partida!
➔ Apresentar o
movimento de regência de um “compasso quaternário”. Esse movimento é muito
semelhante ao sinal da cruz. Assim: movimentar a mão direita pra baixo, para
esquerda, para direita e pra cima. E em cada movimento, acrescentar a contagem:
Um, Dois, Três, Quatro! Pedir, por
gentileza, que todos possam repetir o movimento algumas vezes. Doravante
denominaremos de tempo um, tempo dois, tempo três e tempo quatro.
➔ Redividir os
grupos ao meio, ficando agora com quatro Grupos (A, B, C e D) se acaso a
família for menor que quatro integrantes uma opção seria convidar a família do
vizinho, criar uma integração familiar maior e distribuir as sonoridades de
cada um, sendo:
Grupo A –
“Sí Fú Xí Pá”
Grupo B –
“Tchhh Tchhh”
Grupo C –
“Piii Uiií”
Grupo D –
“Tic Tac”
➔ O grupo A
emite no tempo um do compasso quartenário o som “Si”, emite no segundo tempo do
compasso quartenário o “Fu”, emite no terceiro tempo do compasso quartenário o
“Xi” e emite no quarto tempo do compasso
quartenário “Pá”. Ficará assim: “Sí Fú Xí Pá”
➔ O grupo B
emitirá os sons somente no segundo e quarto tempos o “Tchhh”.
Ficará
assim: “Tchhh! Tchhh!”
➔ O grupo C
emitirá apenas no terceiro compasso, no tempo um, junto com o “Si” do grupo A, cantando
“Piuuuiiiiiiiiiiiiiiii!”
➔ O grupo D
emitirá apenas no terceiro compasso, no tempo três, com “Tic” e no tempo
quatro, com “Tac”!
➔ O exercício
começa num ritmo bem lento, altura fraca e duração mais longa. Na medida em que
cada elemento é acrescentado, o ritmo e a altura se intensificam e a duração torna-se
mais curta. Por fim, sempre seguindo a regência do compasso quartenário
explicado acima, o grupo começa a desacelerar o ritmo, diminuindo a altura e
aumentando a duração gradativamente, a cada novo compasso, até cessar o som.
7) Encerramento
Perguntar
qual é percepção do grupo com todos os exercícios práticos. Na diversão do
trenzinho, todas as qualidades do som foram trabalhadas: a altura a
duração, a intensidade e o timbre. E, o mais importante, conquistaram boas risadas
no ambiente familiar.
- Quais as impressões, as sensações experimentadas?
- Em quê essa vivência pôde contribuir para a
sua vida pessoal?
Frases sugestivas
para conclusão :
“Feliz é aquele que transfere o que sabe e
aprende o que ensina.” (Cora Coralina)
“A Linguagem Musical me basta!” (Tom Jobim)
“A Linguagem Musical me basta!” (Tom Jobim)
INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS PARA QUEM QUISER SABER MAIS:
Moraes, J. Jota de. O
que é música. Coleção primeiros passos n°80. São Paulo: Ed.
Brasiliense. 1983
Barrau, Henry. Para
compreender as músicas de hoje. São Paulo: Perspectiva. 1997
p. 3
Medaglia, Julio. Música
Impopular. São Paulo: Global. 2003.
Winisk, José Miguel. O
som e o sentido: uma outra história das músicas. São
Paulo:Companhia das
Letras. 1989.
Kiefer, B. Elementos da
linguagem musical. Porto alegre: Ed. Movimento. 1973.
Bennett, R. Uma breve
história da música. Traduzido por Maria Teresa Resende Costa. Rio
de Janeiro: Jorge Zahar
Ed. 1986.
Bennett, R. Como ler uma
partitura. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. 1986.
Bennett, R. Elementos
básicos da música. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. 1986.
Bennett, R. Aprendendo a
compor. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. 1986.
Swanwick, Keith.
Ensinando música musicalmente. São Paulo: Moderna. 1999.
Méd, Bouhumil. Teoria da
Música. 4 edição. Brasília, DF: Musimed, 1996.
Donald, J. Grout.
Palisca, Claude V. História da Música Ocidental. Lisboa: Gradiva.
Schafer, R. Murray.
Ouvido pensante. São Paulo: Unesp. 1986.