4 de outubro de 2015

HARMONIA FAMILIAR ATRAVÉS DA MUSICALIDADE NO LAR


Conquiste a harmonia no lar pela musicalidade familiar.

INTRODUÇÃO.

Se não existisse o ouvido, não haveria diálogo. Dos cinco órgãos dos sentidos, o ouvido é o primeiro a ativar-se, já durante a gestação (aos seis meses), de modo que o bebê, quando nasce, já reconhece o som da voz de sua mãe. O ser humano pode até fechar os olhos ou a boca de forma voluntária, sem qualquer auxílio externo, mas não pode fechar os ouvidos. E se os olhos são considerados como as janelas do coração, os ouvidos podem ser denominados como o portal de acesso para as profundezas da alma humana. Por isso a música tem o poder de estremecer o homem e despertar-lhe emoções em um nível muito profundo.

A prática musical proporciona a criação de valores com amplos e diversos significados. A sociabilidade e interação do individuo com seu meio, por meio da percepção daquilo que o rodeia; o relacionamento direto com um grupo e trabalho em equipe, organização; o constante desenvolvimento da criatividade e percepção artística. O dinamismo da execução musical envolve múltiplas inteligências como a motora (por meio da execução mecânica de seu instrumento); a visual (lendo códigos próprios de linguagem musical e se comunicando visualmente com outros músicos, percebendo os gestos instrumentais inerentes à execução musical); auditiva (trabalhando a percepção daquilo que ocorre do seu ambiente e o som dos outros músicos tocando); o pensamento abstrato e espacial (através das evocações que o discurso musical carrega em si mesmo, e as representações da escrita musical, por meio de qualquer espécie de notação); linguística, proporcionando novas formas de expressão dialética dentro da linguagem dos sons; interpessoal, à medida que se proporciona a oportunidade do convívio social e põe em clara evidência a comunicação e relacionamento dos membros do grupo entre si, no momento da execução de alguma peça musical; intrapessoal, pois implica na superação de conflitos e questões internas em prol de um resultado final maior, como a apresentação musical. Essa vivência e ensino serão proporcionados na criação e execução de apresentações artísticas musicais. Estudos apontam que a música desenvolve novas habilidades cognitivas e ajuda a lidar melhor com as emoções, a diminuir comportamentos agressivos. É usada para tratar crianças com hiperatividade, distúrbios de atenção e de linguagem. Ela pode ser usada para trabalhar várias áreas. Um piano é matemática pura! Na alfabetização é possível usar elementos musicais similares ao som das letras. A música favorece até o convívio social das crianças e no campo da neurociência, não faltam dados que vinculam o estudo da música ao desempenho intelectual. 



Quando pensamos em música, logo imaginamos o ouvido como órgão importante de sentido, mas é o cérebro que interpreta as ondas sonoras recebidas pelo ouvido. Assim como todos os sentidos externos do corpo humano (audição, olfato, tato, paladar e visão) a audição é resultado de uma interpretação cerebral. Quanto mais rica for uma música em seus diferentes sons (agudos, médios e graves), timbres (cordas, sopro e percussão), ritmos (pulsações), velocidades (notas longas, médias e curtas), intensidade (forte, média e fraca) com harmonia (combinação de sons simultâneos), mais o cérebro de quem a ouve será estimulado. Recomenda-se, por exemplo, às crianças em idades iniciais do desenvolvimento cerebral (0 a 6 anos) ouvir músicas eruditas, a exemplo das "clássicas", por serem ricas em expressões sonoras propícias ao desenvolvimento da acuidade auditiva; característica esta que é de grande importância para aprendizagem de idiomas. A música, arte de combinar os sons, é uma excelente fonte de trabalho escolar e no lar porque, além de ser utilizada como terapia psíquica para o desenvolvimento cognitivo, é uma forma de transmitir idéias e informações, faz parte da comunicação social.




OBJETIVO
Esse curso prático tem como alvo a introdução aos conceitos fundamentais da música, os quais podem ser utilizados como uma poderosa ferramenta para estabelecer a harmonia no lar pela musicalização entre maridos e mulheres, filhos, irmãos, mães e pais, para todas as faixas etárias. Desenvolver uma ampla concepção sobre o fazer musical, possibilitando novas abordagens e ferramentas para o cotidiano familiar, e a prática musical como elemento gerador de bons valores humanos.    



MATERIAL: Sucata em geral, qualquer material reciclável.  Por exemplo: pedaço de conduíte (mais ou menos 1 metro), ½ xícara de arroz cru, fita isolante, frascos e objetos de várias formas e tamanhos, cascas de coco, retalhos de papel celofane, espiral de caderno, balão de látex (bexiga de festa), objetos de metal, de vidro, plástico, madeira. 


AQUECIMENTO:

A) Respiratório

Todos de pé, em roda e de mãos dadas. Começar pelo exercício de respiração. Inspirar pelo nariz, expirar pela boca. Trabalhar pulmão e diafragma (boca do estômago), enchendo a ambos de ar.

Em seguida, relaxar pescoço e ombros, fazendo movimentos lentos e firmes. Com o queixo junto ao tórax, girar a cabeça da esquerda para a direita, fazendo um círculo completo e depois da direita para a esquerda (três vezes de cada lado). Depois, movimentar a cabeça para o lado, de modo a tentar tocar o ombro esquerdo com a orelha esquerda e o ombro direito com a orelha direita (três vezes de cada lado). Por fim, girar a cabeça lateralmente, de modo a alinhar o queixo com o ombro esquerdo. Voltar para o meio e depois alinhar o queixo com o ombro direito (três vezes de cada lado).

Inspirar pelo nariz, expirar pela boca, variando a expiração em sons de ssssss, ffffff,
Xxxxxx, zzzzzzzzzzz, brrrrrr, trrrrrr.
OBS.: Não fazer exercício respiratório de olhos fechados, pois pode provocar tontura.

B) Vocal
Aquecer as pregas (cordas) vocais, expirando com modulações de agudo e grave, volume forte e volume fraco (alto e baixo), das seguintes sonoridades:
Nasal ressonância: m ;
Fricativo sonoro: v, z, g/j ;
Vibração de lábios: br (brincando de carrinho);
Vibração de língua: tr (toque de telefone)

C) Auditivo
Pedir para que todos (mesmo que “todos” sejam apenas dois) sentem-se e fechem os olhos, mantendo a respiração lenta e profunda.
Dispor os objetos numa mesa e cobri-los com um tecido. Só tirar o tecido quando todos estiverem de olhos fechados (mesmo que todos sejam apenas dois integrantes). Isso ajuda a manter uma atmosfera imaginativa no grupo. Cobrir os objetos novamente, antes que o grupo possa abrir os olhos.

Produzir sons com os diversos instrumentos de sucata para o grupo escutar (que devem ser feitos com delicadeza e harmonia). Enquanto isso, sugerir que cada um possa:
Ouvir o som mais distante que conseguir.
Ouvir o som da sala.
Ouvir o som da própria respiração.
Ouvir a corrente sanguínea como rios e cachoeiras
Ouvir o nosso coração, que é um tambor natural.




VIVENDO AS QUALIDADES DOS SONS

1)       Palma Progressiva

Ainda em pé e mantendo o grupo em um círculo, orientar para que todos (mesmo que todos sejam apenas dois) batam o dedo indicador direito na palma da mão esquerda, várias vezes, todos juntos.
Depois, bater os dedos indicador e médio da mão direita, na palma da mão esquerda, várias vezes, todos juntos.
A seguir, atenção: bater os dedos indicador, médio e anelar da mão esquerda na palma da mão direita, várias vezes, todos juntos.
Por fim, bater os dedos indicador, médio, anelar e mínimo da mão esquerda na palma da mão direita, várias vezes, todos juntos.

1A) Variação do exercício
Propor que dois instrumentos, tambor e guizo*, sejam usados para mostrar os sons fortes e fracos. *(os instrumentos “tambor” e “guizo” podem ser adquiridos ou substituídos por utensílios domésticos que causem o mesmo efeito sonoro)
Pedir que o grupo se divida em dois e se posicione um de frente pro outro. Mesmo que o grupo seja ímpar, com 3 integrantes, ou com apenas 2 integrantes, o que vale aqui é a intenção de se criar a harmonia no lar pela musicalização entre os participantes.
Quando bater o tambor, o grupo A bate os pés no chão, com força.
Quando tocar os guizos, o grupo B bate palmas bem de leve.

OBS.: Perguntar qual é percepção do grupo com os exercícios. Após ouvir as opiniões, ler o conceito abaixo:

Estes exercícios nos permitiram descobrir uma das qualidades do som, a intensidade, que é a diferença entre sons fortes e fracos. Então, a intensidade é a qualidade que se refere à força do som. A intensidade é “o volume” do som, que erroneamente dizemos estar “baixo ou alto”. O conceito de som baixo e alto nada tem a ver com a intensidade e será visto mais adiante, no item 3, na forma de altura.





2) O Grande e o Pequeno
Manter o grupo dividido em dois. Cada grupo deverá imitar um animal.
(Procure não fazer Bullying)
Propor ao grupo A que ande com passos largos como o elefante e invente sons longos.
O grupo B irá andar com passinhos curtos como a formiguinha e inventar sons curtos.

2A) Variação do exercício
Mantendo a divisão de grupos A e B, sugerir ao grupo A para saltitar, como se os pés estivessem queimando, caminhando sobre a brasa, ao ouvir o som do pandeiro (sons curtos).
Sugerir ao grupo B que deslize os pés no chão, como se estivessem escorregando na lama, ao ouvirem a percussão do chocalho (sons de longa duração).

OBS.: Perguntar qual é percepção do grupo com os exercícios. Após ouvir as opiniões, ler o conceito abaixo:
Estes exercícios nos permitiram explorar outra qualidade do som, a duração, que é a diferença entre sons longos e curtos. A duração é a qualidade que se refere à extensão do som, que pode ser maior ou menor, igual ou desigual. 



3) O Altão e o Baixinho
Mantendo a divisão de grupos A e B, propor que o grupo A imite o “BLIM” de um sininho e movimente os braços para a direita.
O grupo B irá fazer “BLÃO”, movimentando os braços para a esquerda.
Em seguida, pedir para o grupo do “BLIM” cantar bem fininho (agudo), e ao grupo do “BLÃO” para cantar mais grosso (grave).

3A) Variação do exercício (desenhar uma escada no quadro negro, quadro branco, flipshart, na parede, no chão, enfim, onde for possível. )
Agora, o grupo A, irá fazer de conta que está descendo uma escada, emitindo sons mais graves a cada degrau que desce, começando pelo tom mais agudo do que fizeram no exercício anterior.
O grupo B irá fazer de conta que está subindo uma escada, emitindo sons mais agudos a cada degrau que sobe, começando pelo tom mais grave do que fizeram no exercício anterior.

OBS.: Perguntar qual foi a percepção do grupo com os exercícios. Após ouvir as opiniões, ler o conceito abaixo:

Estes exercícios nos permitiram conhecer uma terceira qualidade do som, a altura, que é a diferença entre sons agudos e graves. A altura à definição da frequência dos sons, que podem se apresentar mais graves (com poucas vibrações) ou mais agudos (com vibrações mais frequentes).

4) Cada um com o seu som
Pedir para que o grupo se sente e feche os olhos.
O instrutor da turma (eleito de forma democrática entre os integrantes da família) desloca-se livremente pela sala e produz diferentes tipos de som.
Ex.: Sacode uma caixa de lápis, amassa um papel, bate com a cesta de papel no chão etc. O grupo deve tentar adivinhar que tipo de objeto está produzindo aquele som, comentando se é um som forte ou fraco, alto ou baixo, longo ou curto, com o que se parece.

4A) Variação do exercício
Descobrir os objetos do aquecimento auditivo e pedir para que o grupo explore as múltiplas possibilidades de timbre.

OBS.: Perguntar qual é a percepção do grupo com os exercícios. Após ouvir as opiniões, ler o conceito abaixo:

Estes exercícios nos permitiram experimentar outra qualidade do som, o timbre, que são as diferentes características dos diversos tipos de som e que o timbre depende da natureza do objeto que esta produzindo o som. O timbre é a qualidade que se refere à “cor” dos sons ou da voz; a qualidade que torna diferente e única uma voz da outra, um instrumento de outro.


5) Sentir o Ritmo
Este exercício requer um nível de atenção que irá definir se haverá ou não sucesso na última brincadeira.
Pedir para que o grupo caminhe aleatoriamente pela sala, se misturando bem. Sempre inspirando pelo nariz e expirando pela boca. Uns 10 segundos.
Ao sinal da primeira palma dada pelo instrutor, todos param, sempre prestando atenção à própria respiração.
Então, o instrutor pede para que o grupo dê um passo para cada palma que ele der.
Segue, propondo ritmos, intensidades e durações diferentes.
Pode experimentar sequências de palmas de duas em duas, depois de três em três e quatro em quatro e depois fazer uma inversão: de quatro em quatro, de três em três e de duas em duas palmas.
OBS.: O instrutor da turma precisa observar se o grupo está atento, se consegue corresponder às instruções. Perguntar ao grupo quais são dificuldades encontradas e oferecer acolhimento carinhoso na eventual possibilidade de haver conflitos.

6) O Trem está de Partida!
Apresentar o movimento de regência de um “compasso quaternário”. Esse movimento é muito semelhante ao sinal da cruz. Assim: movimentar a mão direita pra baixo, para esquerda, para direita e pra cima. E em cada movimento, acrescentar a contagem: Um, Dois, Três, Quatro!  Pedir, por gentileza, que todos possam repetir o movimento algumas vezes. Doravante denominaremos de tempo um, tempo dois, tempo três e tempo quatro.

Redividir os grupos ao meio, ficando agora com quatro Grupos (A, B, C e D) se acaso a família for menor que quatro integrantes uma opção seria convidar a família do vizinho, criar uma integração familiar maior e distribuir as sonoridades de cada um, sendo:
Grupo A – “Sí Fú Xí Pá”
Grupo B – “Tchhh Tchhh”
Grupo C – “Piii Uiií”
Grupo D – “Tic Tac”
O grupo A emite no tempo um do compasso quartenário o som “Si”, emite no segundo tempo do compasso quartenário o “Fu”, emite no terceiro tempo do compasso quartenário o “Xi” e emite  no quarto tempo do compasso quartenário “Pá”. Ficará assim: “Sí Fú Xí Pá”

O grupo B emitirá os sons somente no segundo e quarto tempos o “Tchhh”.
Ficará assim: “Tchhh! Tchhh!”

O grupo C emitirá apenas no terceiro compasso, no tempo um, junto com o “Si” do grupo A, cantando “Piuuuiiiiiiiiiiiiiiii!”

O grupo D emitirá apenas no terceiro compasso, no tempo três, com “Tic” e no tempo quatro, com “Tac”!

O exercício começa num ritmo bem lento, altura fraca e duração mais longa. Na medida em que cada elemento é acrescentado, o ritmo e a altura se intensificam e a duração torna-se mais curta. Por fim, sempre seguindo a regência do compasso quartenário explicado acima, o grupo começa a desacelerar o ritmo, diminuindo a altura e aumentando a duração gradativamente, a cada novo compasso, até cessar o som.


7) Encerramento
Perguntar qual é percepção do grupo com todos os exercícios práticos. Na diversão do trenzinho, todas as qualidades do som foram trabalhadas: a altura a duração, a intensidade e o timbre. E, o mais importante, conquistaram boas risadas no ambiente familiar.
  • Quais as impressões, as sensações experimentadas?
  • Em quê essa vivência pôde contribuir para a sua vida pessoal?
Frases sugestivas para conclusão :
“Feliz é aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.” (Cora Coralina)
“A Linguagem Musical me basta!” (Tom Jobim)


INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS PARA QUEM QUISER SABER MAIS:
Moraes, J. Jota de. O que é música. Coleção primeiros passos n°80. São Paulo: Ed.
Brasiliense. 1983
Barrau, Henry. Para compreender as músicas de hoje. São Paulo: Perspectiva. 1997
p. 3
Medaglia, Julio. Música Impopular. São Paulo: Global. 2003.
Winisk, José Miguel. O som e o sentido: uma outra história das músicas. São
Paulo:Companhia das Letras. 1989.
Kiefer, B. Elementos da linguagem musical. Porto alegre: Ed. Movimento. 1973.
Bennett, R. Uma breve história da música. Traduzido por Maria Teresa Resende Costa. Rio
de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 1986.
Bennett, R. Como ler uma partitura. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. 1986.
Bennett, R. Elementos básicos da música. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. 1986.
Bennett, R. Aprendendo a compor. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. 1986.
Swanwick, Keith. Ensinando música musicalmente. São Paulo: Moderna. 1999.
Méd, Bouhumil. Teoria da Música. 4 edição. Brasília, DF: Musimed, 1996.
Donald, J. Grout. Palisca, Claude V. História da Música Ocidental. Lisboa: Gradiva.
Schafer, R. Murray. Ouvido pensante. São Paulo: Unesp. 1986.



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