A manhã corria tranquila, aprazível, amenizada por uma brisa tão suave que mal chegava a bulir, de leve, com as florzinhas brancas do pé de manacá.
O céu, de um azul avermelhado, era recortado pelo vôo rápido das andorinhas de barriga branca, retardatárias, que partiam para a viagem diária do “até logo, vou voltar”. Uma sabiá-coleira, escondida na velha jabuticabeira, desfiava confiante sua canção predileta:
- Eu plantei, não cresceu...
Apodreceu...
Frio, frio...
Mas, com todo aquele esplendor e encanto do dia, a jovem Mãe sentia-se impaciente.
Impaciente e nervosa.
Correndo entre as árvores do quintal, o seu filhinho brincava descuidado.
Em dado momento o garoto aproximou-se de um poço que havia junto ao banco da mangueira.
Não havia perigo algum.
A Mãe viu-o e irritou-se.
Irritou-se porque estava impaciente.
Caminhando pé ante pé, acercou-se do filho, ergueu a mão e deu-lhe uma forte, uma fortíssima palmada. Uma palmada que foi mesmo pra valer.
Surpreendido com o castigo, que parecia injusto, o menino ficou bastante irritado.
E, voltando-se para a Mãe, disse com ar zangado:
- Você bateu em mim! Não gosto mais de você!
A jovem Mãe fitou-o, bastante surpresa:
- O Que está dizendo, meu filho?
O garotinho repetiu em tom firme:
- Não gosto mais de você!
E, com a fisionomia amuada, afastou-se encaminhando-se para o fundo do quintal. Voltava-se pórem, cada passo, para o lado em que se achava sua Mãe, e insistia naquele estribilho em tom sério:
- Não gosto mais de você!
- Não gosto mais de você!
E proferindo sempre, em voz alta, aquela queixa chegou junto ao muro, meio esboroado, que um espesso lençol verde de erva cobria de alto a baixo.
Ora, no terreno vizinho havia uma grande pedreira e essa pedreira, com sua face lisa, provocava um eco de rara perfeição.
Quando o menino repetiu pela última vez “Não gosto mais de você”, o eco repetiu:
- Não gosto mais de você!
Ao ouvir aquele brado rouco, estranho, que parecia reboar nas alturas, o garoto, que desconhecia a existência do eco, assombrou-se.
Correu para junto de sua Mãe e , com a voz trêmula, balbuciou:
- Mamãe, Mamãe! Lá no fundo do quintal, para o lado da pedreira tem um gigante que grita pra gente: “Não gosto de você!”
A Mãe percebeu a verdade do acaso e, tomando seu filho pela mão, proferiu em tom carinhoso:
- Venha cá, meu filho! Venha comigo!
E levou-o até o lugar, junto ao muro do qual se podia ouvir, com mais segurança, o eco maravilhoso.
E, ali chegando, tomou o filho no colo e assim falou, com serena bondade:
- Grite agora, bem alto, meu filho! Grite bem alto para o gigante: “Eu gosto de você!”
O menino, sem hesitar, levando as mãozinhas em concha, na altura da boca, fez vibrar a sua voz:
- Eu gosto de você!
O eco rebateu:
- Eu gosto de você!
- Outra vez, meu filho – recomendou a Mãe – grite outra vez!
O menino obedeceu:
- Eu gosto de você!
O eco, na sua fidelidade acústica, fez soar no meio das árvores, até a estrada:
- Eu gosto de você!
A jovem Mãe, com o filho nos braços, e alegria intensa no coração, assim falou:
- Essa voz que você ouviu meu filho, é a voz da Vida! E é sempre assim na Vida: A toda palavra dita com bondade e simpatia, responde sempre a Vida com simpatia e bondade! A todo gesto de meiguice e delicadeza recebemos, em troca, delicadeza e meiguice. Na vida, meu filho, temos que agir para o bem, para que possamos receber o bem da Vida...
Fez uma pequena pausa e beijando seu filhinho, logo acrescentou:
- Meu filho, eu hoje estava impaciente! E por estar impaciente, bati em você! Mas eu gosto meu querido, eu gosto muito de você!
O menino abraçou sua Mãe, abraçou-a com redobrado carinho e murmurou:
- Mamãe! Mamãe! Desculpe Mamãe! Eu também gosto muito de você!
E o eco que parecia nascer do coração da pedra, repetiu:
- Mamãe! Mamãe! Desculpe Mamãe! Eu também gosto muito de você!
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