1 de setembro de 2015

A origem da Primavera!



Em tempos arcaicos havia uma deusa chamada Ceres, que tinha poder sobre a terra. Fazia crescer plantações, as flores desabrocharem, cobria as árvores de verde, amadurecia os frutos e os grãos. A vida na terra inteira dependia do seu zelo e perfeição.
Ceres protegia a relva e as samambaias, todas as plantas e frutos, e mais que tudo amava sua filha Proserpina. E a filha a amava também, era feliz e brincava com os raios de sol nas flores, contente como o dia.
Certa vez a menina brincava no campo, tecendo uma coroa de flores para enfeitar seus cabelos. Colhia as flores mais belas – violetas, margaridas, lírios e miosótis.
No outro lado da campina viu brilhar uma flor branca. Correu para lá e achou a flor mais bela do mundo. Num único caule havia mais de cem botões. Tentou apanhar, mas o caule não quebrava. Agarrou com toda a força e a planta saiu com a raiz.
Um barulho de trovão veio das entranhas da terra. No lugar onde estava a planta a terra abriu-se numa fenda que crescia cada vez mais. Do abismo surgiram quatro cavalos negros como carvão, puxando uma carruagem feita de ouro e rubis. Sentado no resplendor da carruagem, vinha Plutão.
Plutão era o deus dos subterrâneos do mundo. Vivia e reinava na escuridão sob a terra, onde o Sol não brilha, não cantam pássaros e não nascem flores. Ao ver Proserpina, achou que a presença da adolescente, alegre e linda, traria um pouco de luz ao seu reino. Saltando da carruagem foi até onde ela estava, pegou a jovem, levou-a para a carruagem e afastou-se a todo galope.
Chegando ao portão das trevas, Proserpina desesperada atirou a coroa de flores a um rio, pedindo às ninfas das águas que a entregassem a sua mãe. As portas se abriram, a carruagem entrou e Proserpina tornou-se prisioneira no mundo subterrâneo.
Enquanto isso, ato contínuo, na superfície o Sol se punha e Ceres voltava dos campos. Procurou a filha por todo o canto, mas em vão. Chamou por ela nos bosques; à noite acendeu uma tocha e continuou a busca. A manhã chegou e sem sinal da menina.
Ceres saiu pelo mundo à procura de Proserpina e esqueceu a parte da natureza da qual lhe cabia cuidar. As plantações morreram, as flores murcharam, os frutos secaram. A terra ficou estéril e o trigo não brotou, a relva amarelou, as folhas caíram das árvores. A fome se espalhou pelo mundo e as pessoas imploravam à deusa que voltasse. Mas Ceres estava tão longe que não ouvia os chamados só pensava na filha desaparecida.
Até que um dia, na margem de um rio muito largo, Ceres chorava a filha perdida quando as águas lhe trouxeram uma coroa de flores. Reconheceu na coroa o trabalho de Proserpina e entendeu que era um recado. Tentando adivinhar onde estaria a menina, ouviu a fonte murmurar que no mundo lá em baixo, onde essa fonte nascia, Proserpina estava no trono ao lado de Plutão.
Ouvindo isso, Ceres correu a Júpiter, deus dos deuses, implorando que mandasse Plutão devolver Proserpina. A princípio Júpiter não mostrou boa vontade para interferir com os poderes do deus das trevas, mas as lágrimas desesperadas da mãe tocaram seu coração. Os homens juntaram suas preces às de Ceres, implorando a intervenção de Júpiter para que a deusa voltasse a cuidar da terra e os salvasse da morte. Os homens estavam prestes a morrer de fome. Finalmente Júpiter cedeu.
- Proserpina pode voltar – disse ele -, desde que não tenha comido nada no mundo subterrâneo. Assim é a Lei. Vou mandar Mercúrio, o deus mensageiro, ao reino de Plutão.
No reino de Plutão, Proserpina chorava. Não aceitava presentes, não provava comida. Queria voltar para sua mãe. Lembrando-se de que Ceres oferecia à filha os frutos da terra, mandou os servos buscarem as frutas mais saborosas na superfície. Mas a terra devastada não dava mais alimento – nas árvores nuas não havia flores nem frutas. No caminho de volta, porém, os servos encontraram uma pequena romã e a levaram a Plutão.
- Coma a romã, Proserpina - pediu o deus - Mandei buscar na terra para você!
Proserpina não tocou na fruta e Plutão, deixando a romã perto dela, retirou-se. Mas a romã exalava um aroma tão convidativo que Proserpina pegou-a e, com a fome que estava, levou-a a boca.
Ato contínuo, então, chegou Mercúrio.
- Não coma, Proserpina! Júpiter me enviou para levar você para casa, mas se der uma só mordida nunca mais poderá sair daqui. Assim é a Lei.
- Já engoli seis sementes de romã! Disse ela.
A notícia foi levada a Júpiter, e ele decidiu que para cada semente de romã que havia comido, Proserpina passaria um mês no reino de Plutão.
Seis meses por ano, ela passa reinando nas trevas ao lado de Plutão e a terra lamenta sua ausência. As flores desaparecem, as folhas caem, os pássaros se calam e o céu chora sua partida. É o tempo do inverno.
Mas quando os portões de Plutão se abrem, Proserpina vem passar seis meses com a mãe e a terra inteira se abre em flores para recebê-la. O céu torna a ficar azul, a relva verde, as árvores explodem em botões e os pássaros entoam belas canções. É o tempo da primavera.

Fonte: O Livro das Virtudes – O Compasso Moral. Págs. 472, 473 e 474.


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